“Qual será o
coração
tão cru e sem
piedade,
que lhe não cause
paixão
uma tão grã
crueldade
e morte sem
razão?”
Garcia de
Resende, Trovas à Morte de D. Inês de Castro - http://cfp.cm-lisboa.pt/pls/htmldb/f?p=334:5:2189754000547293::::P5_ID,P5_TIPO:81,autor#1
A consciencialização por parte de Inês de Castro do perigo que
corre e a aceitação do seu destino. “Estou aqui sentada à espera da morte …”.
Dia consagrado ao balanço de uma relação que se aproxima do fim,
em que o sentimento de culpa a invade “Agora
que sinto o fim aproximar-se (…) reconheço que fui leviana e imprudente ao
deixar que Pedro me visitasse na madrugada das núpcias (…) antes de visitar
Constança.”
“A minha consciência arrependida atormenta-me pois feri profundamente
Constança …”.
Envolvida por este arrependimento, Inês relata a sua história com
a esposa de D. Pedro, a quem esteve ligada desde muito nova. Contudo, continua
a acreditar no amor “… sim porque sei-o agora, o nosso amor
sempre foi divino e é por isso que se tornará eterno.”
Crença inabalável ou
forma de justificar a sua leviandade e o facto de ter traído uma amiga?
Possessa, que Inês de Castro fez renascer das cinzas da loucura, é
mais uma das personagens que pressente que a morte de Inês está cada vez mais
próxima, pois, segundo diz, consegue ver esse fim desenhado nas nuvens do céu.
No seu discurso, explica por que razão aos poucos e poucos voltou
a ser ela própria regressando assim à terra dos vivos, ato que atribui à
preciosa e persistente ajuda de Inês.